Resenha - O planeta dos macacos


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Livro: O Planeta dos Macacos

Autor: Pierre Boulle

Editora: Aleph

Páginas: 216

Gênero: Ficção Científica

Sinopse: Em pouco tempo, os desbravadores do espaço descobrem a terrível verdade: nesse mundo, seus pares humanos não passam de bestas selvagens a serviço da espécie dominante... os macacos. Desde as primeiras páginas até o surpreendente final – ainda mais impactante que a famosa cena final do filme de 1968 –, O planeta dos macacos é um romance de tirar o fôlego, temperado com boa dose de sátira. Nele, Boulle revisita algumas das questões mais antigas da humanidade: O que define o homem? O que nos diferencia dos animais? Quem são os verdadeiros inimigos de nossa espécie? Publicado pela primeira vez em 1963, O planeta dos macacos, de Pierre Boulle, inspirou uma das mais bem-sucedidas franquias da história do cinema, tendo início no clássico de 1968, estrelado por Charlton Heston, passando por diversas sequências e chegando às adaptações cinematográficas mais recentes. Com milhões de exemplares vendidos ao redor do mundo, O planeta dos macacos é um dos maiores clássicos da ficção científica, imprescindível aos fãs de cultura pop.

Recentemente tivemos um sorteio no clube do livro da UFRRJ, do qual sou organizador, do livro O Planeta dos Macacos e foi uma grande surpresa para mim, porque por mais que eu já tivesse demonstrado interesse na leitura do mesmo, não o faria tão cedo. Mas calhou de cair justamente ele e, bem, eu li. Já tinha ouvido falar muito bem, mas não conhecia nenhum trabalho do autor (e confesso que continuo sem conhecer nada além de Planeta dos Macacos). Pierre Boulle (20/02/1912 – 30/01/1994) foi um Engenheiro militar que atuou como agente secreto francês durante a Segunda Guerra Mundial. Sua vivência como soldado da resistência francesa influenciou muito na sua escrita, e O Planeta dos Macacos é um livro que mostra muito do poder descritivo do autor, nesse sentido. Lançado em 1962, o livro se tornou um sucesso literário que lhe garantiu uma adaptação cinematográfica na época

O Planeta dos Macacos – Dirigido por Franklin J. Schaffner – 1968

“Deu um grito de triunfo e voltou para bordo com sua presa.Era um garrafão, cujo gargalo fora cuidadosamente vedado. Via-se um rolo de papel no interior.– Jinn, quebre-a rápido! exclamouPhyllis, batendo os pés.”- pág. 09



A história se inicia através da perspectiva de Jinn e Phyllis, dois navegadores espaciais que gostam de passar um tempo transitando pelo espaço apenas por diversão, que encontram uma garrafa flutuando no nada, e dela retiram os escritos que dão início aos relatos de Ulysse Mérou, um jornalista francês que embarcou numa viagem centenária em direção ao sistema de Alpha Orions, em busca de um planeta que se assemelhava a terra.

Batizado como Soror, o planeta encontrado é como uma réplica da terra, apenas banhado por uma estrela muito maior. Os relatos científicos descritos na viagem são parte interessante da narrativa, pois imprimem uma sensação de realidade ficcional, característica dos textos que apresentam hibridismo. Os viajantes desembarcam no planeta a espera de descobertas revolucionárias na ciência terrestre, mas não estavam preparados para o que encontrariam tão logo a sua chegada. Os animais de Soror eram humanos. Assim como os símios da terra, os humanos viviam na natureza e se comportavam como animais. Os primeiros contatos dos nativos com os navegantes mostram-se pacíficos, até que os aparatos e ferramentas que Ulysse e seus companheiros usam atrapalham tudo. A trama vai se desenrolar a partir daí até o clímax da primeira parte, onde, sendo caçados como animais, os viajantes espaciais descobrem que a sociedade dominante naquele planeta é composta de símios.

 “Eu arfava de esperança, cada vez mais convencido de que ela começava a reconhecer minhanobre essência. Quando se dirigiu imperiosamente a um dos gorilas, tive a louca esperança deque fossem abrir minha jaula, com desculpas. Ai de mim! Não era nada disso! O guardavasculhou em seu bolso e sacou um pequeno objeto branco, que entregou à sua patroa. Elacolocou-o pessoalmente em minha mão com um sorriso encantador. Era um torrão de açúcar.
Um torrão de açúcar! Despenquei de tão alto, senti-me de repente tão desencorajado diante da humilhação daquela recompensa que quase atirei-a na cara dela.” – pág.46

 Componentes de uma sociedade não tão evoluída quanta a humana, os símios demonstram inteligência e uma organização política bem sólida, o que impede que guerras entre eles mesmo aconteçam. Ulysse passa por diversas desventuras como prisioneiro em Soror, e através dessa condição de alguém privado da liberdade, a personagem levanta boas indagações que, tendo vista a experiência de vida do autor, pareces bem reais. Boulle foi prisioneiro durante praticamente dois anos e meio, quando ainda soldado. 


Banksy
A inserção de novas figuras no decorrer da trama constrói um emaranhado que abala as estruturas sociais dos símios, e põe em risco sua soberania no planeta, quando novas descobertas são feitas e Ulysse se torna o ponto principal de tais investigações. 

Construindo a história através de visões científicas e questionamentos sobre nossa própria conduta como ser humano, Boulle instiga o imaginário do leitor a se colocar no lugar do outro, do oprimido, e nos mostra como as emoções agem sobre a mente humana em situações extremas. Numa visão mais pessoal acerca do livro, acredito que Boulle tenta mostrar os horrores da guerra e da falta de humanidade que ocorria nos campos de trabalho escravo. Ele levanta questionamentos necessários para a evolução como ser humano que diziam muito respeito aos anos sombrios que a guerra proporcionou, misturando realidade e ficção, ainda atentando para a forma como tratamos os animais irracionais e o possível sofrimento que somos capazes de infligir. 


 Jefferson Lemos

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